... como quem passa.
Por quê? Ora, por ser assim mesmo que se vive.
Veja o sol, por exemplo, incidindo sobre um ponto
qualquer do globo: é sempre de outra maneira a cada vez que o faz e
mesmo se acaso o ângulo é igual, ninguém o notará, por se terem
modificado o ponto ou a atmosfera que os seus raios cortam e, é
certo, o lugar donde se observa a cena. E ainda que o observador
jamais se mova, se possível, tudo mais ao seu redor continuará a
suceder-se: sempre algo novo, inimitável, irrepetível e que passa.
Assim rezam física, religião, o poeta.
Portanto, despeça-se. Mas não como quem vai
depois reencontrar, tampouco como quem canta um tango ou uma modinha.
Despeça-se apenas. Pois é assim que se vive.