sábado, março 17, 2018

A saída é para fora!

A tragédia está na certeza de que a revolta e o luto justos por mais esta morte renovam a munição de um dos lados nessa guerra sem fim, em outros termos, ampliam a perspectiva de mais mortes, que municiam os justamente revoltados e enlutados por elas, fazendo novos mortos, e assim para sempre nesse ciclo tão antigo quanto esta civilização.

Tudo em nome do controle do mecanismo de controlar gente, a cuja permanência se tem anuído por mera habituação, uma vez que já se nasce sob sua influência.

O fato de haver quem o critique tem sido em grande medida irrelevante para alimentar o suficiente desinteresse por controlá-lo e o consequente fim da conflagração: ainda são muito poucos os que compreendem a inutilidade de se batalhar pelo que não comporta alterações que o desviem de fazer aquilo para que foi engendrado.

Além de não haver como consertá-lo, porque não há conserto para o que não apresenta disfunção e tem servido muito bem aos propósitos que lhe justificam existir, não se presta também a servir na transição para o próprio fim (como podem até se prestar alguns de nós a cavar a própria cova antes de executados).

É como diz a ladainha dos que o defendem, que ademais da franqueza crua são provavelmente os únicos, à exceção de quem não vê sentido em cotrolar gente seja como for, a dizer sem rodeios a verdade: adapte-se a ele ou pereça ou, caso encontre algum buraco fora de sua influência, transfira-se para lá, abandone-o; porque sob sua alçada o jogo é consabido e em vista das regras é muito mais provável ser imensamente maior o número de perdedores do que o dos que ganham.

Desistir deste Estado que existe para o manejo das finanças, que por sua vez são incapazes senão de malversar a distribuição de riqueza, não é desistir do Estado no sentido essencial, pois Estado é o que carrega consigo todo grupamento de indivíduos ao meramente interagirem.

Abandonar o Estado financeiro, única alternativa dos que o crticam com sinceridade, é em princípio devolver a noção de valor à condição original, a de derivar do diálogo de necessidade e esforço - ou trabalho - para obter aquilo de que se necessita, e reaprender a lidar com ela sem intermediário, assim como é abrir mão de esperar que seja possível encontrar a equivalência justa do que é trocado, que só existe se imposta, ainda que sob a ilusão de resultar de acordo.

Abandonar o Estado financeiro é, portanto, reingressar no esquecido universo do compartilhamento do que é necessidade universal e, em consequência, responsabilidade de todos, deixando para trás, também, líderes, guerras e seus mártires.

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