segunda-feira, agosto 20, 2018

-Discordo!

Por resposta, olhar vítreo, imóvel, silêncio.

-O quê?

-Discorda e...

-Discordo e ponto!

-Bem, sou grato pelo elogio, mas tenho de recusá-lo.

-Elogio?

-Sim. Ao me omitir as razões de sua discordância você sugere ou supõe que as conheço ou sou capaz de descobri-las por conta própria, lisonja sedutora de que por honestidade sou obrigado a declinar.

Silêncio, estupefação.

-Não vê? Em primeiro lugar, fosse o contrário, eu não teria aguardado você apresentá-las. Depois, se as conhecesse de antemão, estaria evidente eu não concordar com elas quando expus outras. Por fim, se as admitia e, assim mesmo, insistia nas que você disse recusar, incorri ou em estúpida contradição (assim fazendo jus, se tanto, a sua piedade), ou em imperdoável desonestidade (não merecendo então sequer a gentileza de sua discordância) - o que, me parece, não foi o caso.

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