domingo, agosto 20, 2006

O que dizer de Bertold?

Personagens para quase-atores: o corpo é a parte visível do fantoche, em cujo interior a mão do texto atua. Por vezes o boneco se insurge contra o que o anima, por outras ri-se de sua vida fajuta, canta e suspende com sarcasmo o próprio roupão em cumplicidade com a platéia.

Cenas para quase-público: ninguém se convence mesmo de o boneco ser alguém. Tampouco se quer senão resvalar no real, fazer pouco dele, atitude única cabível à massa de impotentes.

Verdades para quase-crenças: dali, distando umas poucas portas do restante do mundo, quem acreditaria nessas falas que não dizem muito, quem ousaria dar fé de sua frágil mensagem se, passada a farsa, retornarão todos para suas casas, passando por calçadas, miseráveis, meliantes, rufiões, sacerdotes, ou no interior de ônibus e táxis observando automaticamente manchetes sangrentas, coexistindo em inevitável harmonia?

Rio, 20/08/2006

Waldemar Reis

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