sábado, janeiro 08, 2011

Sem poesia

Se acaso poesia aqui houver, não a terei posto eu. Poesia é presença acidental: raro atende quando chamada, aparecendo sem que a esperem. Em seu nome faz responder um simulacro cujo ardil é fingir onipresença e fazer pensarem os tolos que os cerca a poesia.

Por isso, se alguma aqui houver, a terá posto o olhar, usado como é em tomar às palavras o sentido mais rasteiro. Seja isto evidência de uma natureza moldada em volta de um sentido único que tem por objeto unicamente o prazer. Bastante é, às vezes, um termo, um som, um gesto acidental para despertá-lo, sem o que recolhe-se o sujeito ao desacordo a que dá o nome de dor. Por isso tanta poesia, mesmo se pouca, até quando nenhuma.

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