quarta-feira, junho 17, 2015

Mal faz por ignorar

O malfeito - ou o pecado, se preferir - só se explica por ignorância: uma das consequências do conceito 'causa final' de Aristóteles é isto, além da mostra de que o mal, assim como o entendemos é inacessível ao indivíduo ou sequer existe.

O mal seria, desse viés, o que em essência é: um juízo - uma opinião - direta e vertiginosamente dependente do indivíduo que o concebe, dizendo respeito a precisamente o que lhe desagrada. Quando esse desagrado é com o ato de outro indivíduo, diz-se vulgarmente que este praticou um mal, embora em verdade tenha tentado praticar e de fato praticado um bem, só que um bem contemplando porção muito pequena do universo a ele, indivíduo, ligada e por isso tendente a ser sentida ou percebida, por outrem fora do âmbito de ação desse bem, como mal.

Ora, bens sempre são egoísticos, ou seja, relativos a algo que o sujeito faz por e para si, variando segundo o quanto o sujeito tem por parte de si mesmo, a saber, o quanto no universo lhe agrada, o quanto no universo é amado por ele. Outro modo de dizer isto é demonstrar que o chamado 'conhecimento' é na verdade um dos modos do amar, pelo qual o indivíduo incorpora a si o quanto conhece e em favor ou benefício do que também atuará.

Assim, por não praticar o amor para com o quanto lhe está à volta, torna-se o sujeito ignorante - pois não incorpora isto a si na forma de conhecimento - e, por conseguinte, tendente a produzir bens para a porção do mundo que lhe apetece, que é muito pequena, deixando fora do âmbito benéfico de seus atos tudo mais, ou seja, tudo que - possuindo consciência - tenderá a perceber ou sentir essa ação como má. O mal, portanto, é o resultado de uma ação objetivando, como qualquer outra produzida por um sujeito, um bem, mas restrito em efeito a uns poucos elementos do universo que o sujeito foi capaz de conhecer ou amar, podendo ser interpretado por outro sujeito não incluído nesse efeito como mal.

É bastante, pois, o sujeito conhecer ou amar o quanto lhe está à volta para que tenha seus atos sentidos como bens.

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