Os paradoxos que temos de engolir, é provável que por serem as maneiras mais à mão - talvez as únicas - de que dispomos para fazer sentido das coisas.
No I Ching, por exemplo, se demonstra haver uma só coisa imutável: a mutação sem pausa das coisas em outras, fonte exclusiva - inclusive(!) - da noção que temos de tempo.
Se compreendemos e aceitamos esse argumento como regra geral, universal, temos de admitir que a permanência (no tempo, portanto) da ideia que fazemos de nossas identidades próprias, pessoais, se dá por termos 'algo' dizendo-nos constantemente que mudamos e como isto se dá, 'algo' dando conta de uma história cujo sentido inescapável é o de tornar-nos melhores! - 'melhores' no sentido básico de 'adaptados o melhor possível' às reviravoltas (ou transformações) de tudo mais ao redor.
O que possuímos de ponderável, pois, não passa da consciência de sermos imponderáveis por possuirmos habilidade limitada para estimar as mudanças por virem, mas de sermos também confiantes de que continuaremos a responder da melhor forma que pudermos a todas, de que nos manteremos adaptados.
Nesse sentido somos uns vitoriosos e, como dizia Humberto Marini, "pecadores sem culpa": o fato de permanecermos é sempre indício de sucesso, a despeito mesmo do que de miserável se faz para permanecer e seja qual for a medida em graus ou volume usada para estimar os valores de uns relativamente aos outros sucessos - o que não acarreta dizer que aquietemos, que nos locupletemos de ou nos resignemos a perspectivas quaisquer, não importam seus tamanhos - ou grandezas.
Já o fracasso, outro absoluto, não tem senão um modo único de se dar, todos o sabemos ao testemunhar quando se abate sobre outrem, e se algo de bom há a esperar de quando vir apresentar-se a cada um de nós, em maioria nutrimos a expectativa de o não percebermos, de o não vivermos em sua imperscrutável condição, ou não além de notar, como se concede a uns tantos de nós, que é iminente.
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