"Ora, a Fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem" (Paulo de Tarso)
Dito de outro modo:
"A Fé é o substrato da esperança e prova do que se espera conseguir".
Ou melhor:
"A Fé é substância da espera e evidência do esperado".
Observação:
O fato de ser substância não a torna prova - evidência - do que é feito com ela, no caso, a Esperança, muito menos de outra coisa qualquer, no caso, o Esperado. (Por exemplo, a existência do metal de que é feita a tesourinha sobre a mesa não acarreta que haja tesourinhas nem que cortemos as unhas.)
Questão:
Paulo teria 'dado - filosoficamente - a louca', ou estaria definindo a Fé via indução ou contradição?
Ensaio de resposta:
Nem uma coisa, nem as outras.
Na verdade não há contradição alguma se adotamos a solução de Agostinho, das três Virtudes Teologais, que ele chamou de Fé, Esperança e Amor no Manual que escreveu a seu respeito, em que demonstra como, no fim, consistem numa Virtude única - com três designações, no entanto.
Ora, se a substância da Esperança, a Fé, é idêntica a ela, então não só é ela sua evidência, como evidência, também, de seu objeto, aquilo que se espera (e por isso ainda não visto). Por quê? Ora, por não ser possível Espera (Fé) sem objeto, sem o Esperado - donde não haver igualmente indução na proposição paulina.
Portanto, cada instante por vir é objeto da Espera, em seu advento se aposta como que por intuição ou instinto a cada instante que o precede: é desse modo que viver procede, dando o passo que, pouco importa, pode não ser completado, mas que se esperou, em Fé absoluta, dar, completar. O ir em frente na vida é ato de pura Fé como Paulo a definiu, de puro esperar, e a que não é dado renunciar: um indivíduo sem Fé - Esperança - é aquele morto.
E, ora, como não pode ser diferente, o principal atributo do Esperado é o ser bom, mesmo que eventualmente assuma os contornos de algum mal (como o estar vivo ao fim duma guerra, em que foi preciso matar), pois na circunstância é isto que o sujeito, o que espera, tem por algum bem, seja em sua incapacidade de conceber algo melhor ou por isso ser simplesmente o que acredita lhe caber, ser-lhe adequado e, por conseguinte, bom. Quanto ao mal ele mesmo, se categoria assim há, o sujeito antes desepera de que venha ou tenha de ocorrer.
É aqui, então, que se mostra a finura do Paulo catequista da então nascente Fé Católica: todo e qualquer bem esperado tem por necessidade outro que lhe seria maior, O Último dos quais, por assim o ser, também de necessidade sendo a fonte desses outros menores e que, justo por serem bens, consistem em meio de vislumbrar - esperar por - tal Bem Maior (sem qualquer outro concebível que O exceda, diria, mais adiante, Anselmo).
Ora, o fato de não ser possível haver algum bem que exceda o Bem Maior, indica não haver também nenhum que O preceda, que lhe seja menor, porque não pode assim ser, menor, algo que O denota, a impressão de havê-los, menores, sendo atribuível ao patamar donde cada indivíduo é capaz de O vislumbrar, condizente com sua condição de espírito, que condiciona Seu vislumbre a maior ou menor nitidez.
Assim, todos O intuiríamos, Bem Único, ainda que segundo as limitações de cada um, a doutrina cristã vindo a ser o caminho para o refino, a clarificação desse intuir.