Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.
Luís de Camões
Pobre poeta! Perdido em descaminhos indescritíveis até para sua dialética tortuosa. Foi mau, estupidez, cuidando obter o bem, inalcançável enquanto bom foi. Quiçá melhor faria em continuar passando no Mundo tormentos, do que aventurar-se nos exclusivos contentamentos dos maus. Ovelha em pele de lobo, ignorante de estar nos focinhos, por excelência, o tino de predadores tais.
Presunçoso poeta! Oh, porventura quisesse apenas passar-se por bom; até ser mau, naturalmente, pois apenas o bom corre o risco de mau tornar-se. E quem o puniu, finalmente? O mal, por sua desfaçatez de invadir-lhe o território em busca dos prazeres de quem o professa de corpo e alma, ou o bem enciumado? Ora, poeta, o seu castigo não é prova de estar o Mundo, ainda que só para si, concertado.
Que o Mundo não é como nos fazem crer, poeta, disto já me havia inteirado. Nele é bom quem do mal não tem oportunidade, cabendo-lhe assim tão-só sofrer aquele que outrem lhe faz. Estóico poeta! O mal é para peritos! Estultos sábios de antanho, cavilando do bem pedagogias, quando é para a maldade que carece adestrar-se. Fosse o contrário, não seria o bem saber inato.
Já o mal, em sendo novidade, tem de demonstrar-se, verificar-se, justificar-se! Doutro modo, não se o aprende. Preciso é torcer a bondade de que se vem ao Mundo dotado, contrariá-la com argumentos terríficos, irrefutáveis, inquebrantáveis, e depois testar-se, mostrar-se proficiente. Por isso o castigo, poeta. Foi reprovado.
É, o mal não admite fraudes. Nem indecisões. Não contemporiza: o mínimo deslize é o retorno ao chão. Uma vez erguido, no entanto, são oceano as retribuições. A começar pela posição, de mestre, para quem os discípulos, literalmente sob os seus pés, são só gratidão. Ora, poeta, não se anoje, ou mostra ter nada aprendido. Lembre do ditado: só a dor ensina. Ensina a ocasião de infligi-la para a instrução de algum coitado.
Presunçoso poeta! Oh, porventura quisesse apenas passar-se por bom; até ser mau, naturalmente, pois apenas o bom corre o risco de mau tornar-se. E quem o puniu, finalmente? O mal, por sua desfaçatez de invadir-lhe o território em busca dos prazeres de quem o professa de corpo e alma, ou o bem enciumado? Ora, poeta, o seu castigo não é prova de estar o Mundo, ainda que só para si, concertado.
Que o Mundo não é como nos fazem crer, poeta, disto já me havia inteirado. Nele é bom quem do mal não tem oportunidade, cabendo-lhe assim tão-só sofrer aquele que outrem lhe faz. Estóico poeta! O mal é para peritos! Estultos sábios de antanho, cavilando do bem pedagogias, quando é para a maldade que carece adestrar-se. Fosse o contrário, não seria o bem saber inato.
Já o mal, em sendo novidade, tem de demonstrar-se, verificar-se, justificar-se! Doutro modo, não se o aprende. Preciso é torcer a bondade de que se vem ao Mundo dotado, contrariá-la com argumentos terríficos, irrefutáveis, inquebrantáveis, e depois testar-se, mostrar-se proficiente. Por isso o castigo, poeta. Foi reprovado.
É, o mal não admite fraudes. Nem indecisões. Não contemporiza: o mínimo deslize é o retorno ao chão. Uma vez erguido, no entanto, são oceano as retribuições. A começar pela posição, de mestre, para quem os discípulos, literalmente sob os seus pés, são só gratidão. Ora, poeta, não se anoje, ou mostra ter nada aprendido. Lembre do ditado: só a dor ensina. Ensina a ocasião de infligi-la para a instrução de algum coitado.
Rio, 17/16/07
Waldemar M. Reis
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