sábado, março 17, 2012

Para cristão ver

O dar a outra face, descontado o quanto de sublime daí se tirou, deveu-se por certo à circunstância e nela tenha servido talvez para pôr a nu maldade contumaz - por certo, também, inutlimente, ou não acabaria em calvário. Desse viés, foi gesto provocador, que absolve inculpando, de violência comprarável, aliás, à fúria no templo.
Perdão incondicional? É evidente que sim, mas tendo as coisas em seus devidos lugares.
Daí ser impossível que protagonista de atos tais ainda viva e "à direita do pai" aguarde incólume o "fim dos tempos" para pôr ordem na casa. Sua humanidade, em vista disto, teria sido completa, desintegrando-se como tudo mais, e a história restante, obra de loucos - eles mesmos santos, é bem provável, santos loucos, ingênuos de Deus cuja herança se confiou, entre outros, a patifes.
Tudo em nome da livre vontade: em nome de que, ora, tudo sempre se deu (como se alguma vez pudesse a vontade dar conta de concertar o mundo): para isto, então, o teriam consubstanciado: para no fim deixar ao acaso o que ao acaso sempre estivera - prova essa da inutilidade de tudo antes que da confiança no que haveria de ser (ou fé); para dar corpo e voz ao enredo que lhe urdiram os profetas, certos de assim pavimentarem o acesso dos homens à aliança, aliás, antiga, consabida e que de vontade ignoraram; e para entregar-se às atrocidades com que didaticamente ilustraram as cenas finais de sua existência, a serem emuladas e esmeradas nos mais de dois mil anos depois de as encenar, e que ensinam o que qualquer dor ensina: que depois de estancada, é o paraíso.
Acaso o único feito de sua biografia tenha sido o de servir de símbolo em torno do qual se buscaria o unânime repúdio a tudo quanto é bestial entre os homens e, se a História não mente, não terá sido o primeiro nem o último, tampouco o maior, embora exemplo dos mais visíveis do que à brutalidade  é possível. O que vem mesmo a ser o cristianismo?

CRISTO EN LA CRUZ

Cristo en la cruz. Los pies tocan la tierra.
Los tres maderos son de igual altura.
Cristo no está en el medio. Es el tercero.
La negra barba pende sobre el pecho.
El rostro no es el rostro de las láminas.
Es áspero y judío.
No lo veo
y seguiré buscándolo hasta el día
último de mis pasos por la tierra.

El hombre quebrantado sufre y calla.
La corona de espinas lo lastima.
No lo alcanza la befa de la plebe
que ha visto su agonía tantas veces.
La suya o la de otro. Da lo mismo.
Cristo en la cruz. Desordenadamente
piensa en el reino que tal vez lo espera,
piensa en una mujer que no fue suya.
No le está dado ver la teología,
la indescifrable Trinidad, los gnósticos,
las catedrales, la navaja de Occam,
la púrpura, la mitra, la liturgia,
la conversión de Guthrum por la espada,
la Inquisición, la sangre de los mártires,
las atroces Cruzadas, Juana de Arco,
el Vaticano que bendice ejércitos.

Sabe que no es un dios y que es un hombre
que muere con el día.
No le importa.
Le importa el duro hierro de los clavos.
No es un romano. No es un griego. Gime.
Nos ha dejado espléndidas metáforas
y
una doctrina del perdón que puede
anular el pasado.
(Esa sentencia
la escribió un irlandés en una cárcel.)
El alma busca el fin, apresurada.
Ha oscurecido un poco. Ya se ha muerto.
Anda una mosca por la carne quieta.
¿De qué puede servirme que aquel hombre
haya sufrido, si yo sufro ahora?
(Jorge Luis Borges)

Nenhum comentário:


Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License